Viajar nem sempre foi uma opção. Há mais de 10 mil anos, o nomadismo era uma questão de sobrevivência. Os primeiros seres humanos que habitaram a Terra precisavam migrar para se alimentar e se proteger das condições mais desfavoráveis e riscos que o meio ambiente oferecia. Assim, grupos de pessoas se locomoviam de uma região à outra, utilizando-se dos recursos oferecidos pela natureza até esses se esgotarem. 

A humanidade só pôde ter um lugar para chamar de seu quando aprendeu a plantar. Afinal, o nascimento da agricultura permitiu o cultivo desses recursos que outrora se esgotavam e assim os povos conseguiam se assentar. Com a possibilidade do sedentarismo, a população aumentou e, mesmo que a coleta de alguns recursos ainda exigisse deslocamento, não era mais tão distante como antes.

Hoje, ser nômade não é mais uma condição para a sobrevivência humana, mas um estilo de vida. O nomadismo digital é o mais contemporâneo, pois surge no século XXI, quando a realidade é intermediada por cada vez mais dispositivos tecnológicos como telas. Os nômades digitais são aqueles que não possuem moradia fixa e viajam pelo mundo ao mesmo tempo em que trabalham remotamente.

Mesmo antes do home office se tornar a regra, cada vez mais profissionais adotavam o modelo. Mas o nomadismo digital não se limita a um estilo de trabalho. Na verdade, os seus adeptos têm uma enorme paixão por viagens e passam curtos e médios períodos de tempo em cada lugar e carregam suas vidas em uma mochila nas costas. Esse novo estilo de vida foi impulsionado pelo desenvolvimento da Internet, que permite a comunicação móvel.

Desde o momento de arrumar as malas e os documentos para embarcar até o momento de deixar o local de acomodação, todos os momentos dos deslocamentos contemporâneos são registrados por meio de fotos no Instagram e reviews em sites de viagens. As informações sobre valores gastos e a capacidade de recepção do hóspede são os principais critérios para os leitores dessas narrativas.

Mas os registros da experiência de conhecer um outro lugar não se limitam a esse formato. Muito pelo contrário, o diário de viagem requer concentração e tempo, e além de qualificar os atrativos do destino, desvenda detalhes da cultura, da sociedade e da política em cada época. As obras desse gênero aprofundam o relato sobre o percurso mais do que uma legenda com hashtags.

Como uma narrativa acerca das experiências, descobertas e reflexões de um viajante durante seu percurso, a literatura de viagem é uma fonte de conhecimento sobre a história, como as descobertas da Inglaterra em expansão marítima, narradas no livro Voyages, de Richard Hackluyt. As obras pioneiras da literatura de viagem são a Odisseia, de Homero, e As Viagens de Marco Polo, de Martin Claret.

A vivência baseada na cartografia e na curiosidade investigativa dos autores da literatura de viagem desenvolveu-se com o passar dos anos, e encontrou seu apogeu nas décadas de 70 e 80 do século XX. Alguns livros mais recentes do gênero chamaram a atenção pela forma diferenciada com que contam a experiência de viajar, como On The Road: Pé na Estrada, de Jack Kerouac, e Não Conta Lá Em Casa, do brasileiro André Fran. 

Muitas obras contemporâneas da literatura de viagem conciliam a viagem do mundo exterior com a do interior. É o caso de Crônicas Na Bagagem: 421 Dias Na Estrada, de Carina Furlanetto e João Paulo, que descobrem a si mesmos enquanto conhecem destinos turísticos pouco badalados da América do Sul, de Mirella Rabelo e Rômulo Wolff, em A Estrada Dá Tudo Que Você Precisa, e de André Rezende, em O Caminho Da Liderança.

Buobooks indica:

Crônicas Na Bagagem: 421 Dias Na Estrada – Carina Furlanetto e João Paulo

A Estrada Dá Tudo Que Você Precisa – Mirella Rabelo e Rômulo Wolff 

O Caminho Da Liderança – André Rezende