Com o sucesso da série Jogos Vorazes, de Suzanne Collins, e de outros romances ambientados em um futuro perturbador, incluindo a trilogia Mundo em Caos, de Patrick Ness, ficou fácil entender por que a pergunta “e se o mundo como nós conhecemos acabasse?” é tão presente em livros para o público infantojuvenil.

A popularidade dos romances distópicos é compreensível pois reflete a ansiedade generalizada sobre como os recursos naturais do planeta estão sendo explorados e como as sociedades estão sendo governadas. Não é fácil transmitir a importância da abundância sem mostrar os efeitos de sua falta. 

Por isso, apresentar paisagens estéreis e edifícios reduzidos a escombros tem sido uma estratégia adotada pelo cinema para ajudar as crianças e os adolescentes a imaginar como as coisas podem acabar caso os avisos sobre como salvar tudo que conhecemos e temos não forem atendidos.

Ao fornecer exemplos vívidos de como esse lugar pode parecer, esses romances sobre um futuro distópico oferecem aos jovens leitores a chance de pensar sobre que tipo de mundo eles criariam para si próprios se pudessem forjar tudo novamente. Em conjunto, isso dá aos jovens leitores uma maneira de pensar sobre o que precisa ser preservado.

Destruir e construir está no cerne de muitas histórias. A devastação do antigo evidencia a importância do novo quando ele é redescoberto ou reinventado. Não é por acaso que cada vez mais crianças e adolescentes estão devorando os romances distópicos. Mas afinal do que se trata esse gênero literário?

Uma distopia é uma sociedade que está arrasada, aterrorizada, em colapso ou em um estado de opressão. Ao contrário de uma utopia, um mundo perfeito, as distopias são sombrias, perturbadoras e sem esperança. Eles revelam os maiores medos da sociedade. Em geral, governos totalitários comandam e as necessidades e desejos das pessoas estão subordinados a poderes superiores. 

Na maioria dos romances distópicos, um governo tirânico está tentando suprimir e controlar seus cidadãos limitando ou tirando a sua subjetividade, como nos clássicos de 1984 e Admirável Mundo Novo. Governos distópicos também costumam proibir atividades que estimulam o pensamento e a reflexão crítica. Qual é a resposta do governo ao pensamento crítico no clássico Fahrenheit 451, de Ray Bradbury? Queimar os livros!

Mas romances distópicos não são novidade para o público leitor. Desde o final da década de 1890, H.G. Wells, Ray Bradbury e George Orwell entretêm o público com seus clássicos sobre marcianos, queima de livros e Big Brother. Ao longo dos anos, outras distopias, como The House of the Scorpion, de Nancy Farmer, e The Giver, de Lois Lowry, deram aos personagens mais jovens um papel mais central em cenários distópicos.

Desde 2000, os romances distópicos para adolescentes mantiveram o cenário sombrio, mas a natureza dos personagens mudou. Eles não são mais cidadãos passivos e impotentes, e sim adolescentes com poderes, destemidos, fortes e determinados a encontrar uma maneira de sobreviver e enfrentar seus medos. Protagonistas têm personalidades influentes que governos opressores tentam controlar, mas não conseguem.

No romance distópico Delirium, de Simon e Schuster, o governo ensina aos cidadãos que o amor é uma doença perigosa que deve ser erradicada. Aos 18 anos, todos devem ser submetidos a uma operação obrigatória para remover a capacidade de amar. Lena é uma personagem que anseia pela operação e teme o amor, mas conhece um menino e, junto com ele, foge e encontra a verdade.

Em outro romance distópico popular, chamado Divergente,  de autoria de Katherine Tegen Books, os adolescentes devem se associar a facções baseadas em virtudes, mas quando a personagem principal é informada de que ela é divergente, ela se torna uma ameaça ao governo e deve manter segredos para proteger seus entes queridos do mal.

Adolescentes têm se atraído pelos romances distópicos pois é nessas histórias que podem realizar atos de rebelião contra autoridades. Conquistar um futuro sombrio é empoderador, especialmente quando os adolescentes têm que confiar em si mesmos sem ter que responder aos pais, professores ou outras figuras autoritárias. Os leitores adolescentes costumam se identificar com esses sentimentos.

Os romances adolescentes distópicos de hoje contêm personagens adolescentes que exibem força, coragem e convicção. Embora a morte, a guerra e a violência existam, uma mensagem mais positiva e esperançosa sobre o futuro está sendo enviada por adolescentes que estão enfrentando e vencendo os medos do futuro.