Bela Beirão comenta Macunaíma, de Mário de Andrade, marco do modernismo

“Um personagem controverso, um verdadeiro anti-herói. Uma história mágica que lembra a literatura fantástica. Uma literatura da primeira geração do modernismo, crítica e que pretende mudar tudo aquilo que a gente já conhecia”. A autora e booktuber Bela Beirão descobriu Macunaíma, uma das principais obras de Mário de Andrade, ainda na infância, como uma leitura obrigatória para a escola. 

Naquela época, ela não gostou do livro, pois sentiu dificuldade de entender algumas expressões utilizadas. No entanto, ao reler o clássico muito tempo depois, graças ao quadro de seu canal de YouTube, ela mudou sua percepção. Segundo a autora, a obra Macunaíma “de forma altamente crítica nos joga na cara o nosso Brasil”. 

Apesar de seguir considerando a leitura complicada, sobretudo pelas referências em tupi-guarani e a não-linearidade espacial e temporal, Bela confessa que Macunaíma a agradou muito em um segundo momento. Chegou até mesmo a lembrar o livro Cem Anos de Solidão, do escritor colombiano Gabriel García Márquez, pela estrutura da narrativa e pelos elementos fantásticos.

“Macunaíma se transforma em um pato e outros personagens viram estrelas ou constelações. São coisas muito surreais que podem causar um estranhamento em quem não está acostumado com esse tipo de literatura. Tem um momento super engraçado em que o Macunaíma está indo para uma Jornada e resolve passar em um lugar para deixar sua Consciência lá”. 

Fato é que entre as metáforas e símbolos da narrativa, Macunaíma se mostra um clássico anti-herói enquanto personagem da literatura brasileira. Enquanto obra, inova em estética e linguagem e se torna um marco fundamental do modernismo, o primeiro movimento literário realmente brasileiro. Até então, o romantismo, movimento artístico, político e filosófico que surgiu na Europa no século XVIII, era a principal influência. 

“A gente vê bem isso quando Macunaíma se envolve com a Ci, que é a mãe do mato. Ela é uma espécie de entidade nessa história. Ci dá um amuleto da sorte para Macunaíma, mas o objeto é roubado pelo monstro Capei. O enredo se transforma em uma busca incessante pela recuperação do amuleto da sorte. A narrativa não tenta iludir o leitor com personagens perfeitos e românticos. Muito pelo contrário”. 

Uma das propostas de Mário de Andrade e do movimento modernista como um todo é a independência e valorização da cultura cotidiana brasileira. Ou seja, que a arte passasse a olhar para dentro, para o que é original e característico do Brasil. Aqui estão inseridas as lendas e folclores brasileiros, inclusive que foram recentemente apresentados no livro de Januária Cristina Alves que serviu de base para a série Cidade Invisível

“O brasileiro é branco,o brasileiro é índio e o brasileiro é preto. E é justamente esse brilhantismo que a gente encontra nessa história, o de compreender as mensagens que estão sendo transmitidas por meio desse tanto de absurdo que Mário de Andrade traz em Macunaíma”.

Buobooks indica:

Macunaíma: O Herói Sem Nenhum Caráter – Mário de Andrade

Macunaíma (edição de bolso) – Mário de Andrade

Cem Anos de Solidão – Gabriel García Márquez


Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *