O geógrafo William M. Denevan estima que mais de 57 milhões de indígenas habitavam as Américas quando os europeus desembarcaram nesse local, na virada do século XV para o século XVI. De lá para cá, esses povos originários sofreram um dos maiores extermínios da humanidade: foram 70 milhões de mortos, segundo a socióloga Moema Libera Viezzer no livro O maior genocídio da história.

Hoje, os países com maior proporção de indígenas são a Bolívia (62,2%), a Guatemala (41%), o Peru (24%), e o México (15%), de acordo com a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe). O Brasil era habitado por cerca de 3 milhões de indígenas, segundo a Funai (Fundação Nacional do Índio). Hoje são apenas 896.917, de acordo com o último Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

As principais causas do genocídio indígena foram doenças trazidas pelos colonizadores, como a gripe, o sarampo, a varíola e febre tifoide, e a escravização dos povos originários nas plantações de cana-de-açúcar e na extração de minérios e borracha. Além das mortes de indígenas em massa, a colonização está na origem dos desaparecimentos e é responsável pela desapropriação dos territórios dos povos originários.

 

A oralidade e a literatura na preservação das memórias indígenas

Muitos registros dos povos indígenas foram feitos através de fotos de cerimônias e da preservação de materiais como panelas de barro e cocares. Boa parte dessa sabedoria era e é transmitida de geração para geração pela oralidade, em um exercício constante da memória, que é considerada guardiã das histórias vividas. Assim é que os rituais exercidos pelas diferentes tribos, por exemplo, seguem vivos nas culturas.

As tabuinhas de argila, os papiros e os pergaminhos já eram plataformas de comunicação escrita entre seres humanos. Mas com a invenção da imprensa por Gutenberg, a transmissão de conhecimento ganha amplitude e aceleração. Apesar dessa ambição estar distante das culturas indígenas, a história dos povos originários passou a ser contada para outras civilizações. 

Ao contrário de contraponto à oralidade, a literatura tem papel complementar na preservação da memória e na (re)construção das identidades indígenas. Pois a escrita e ilustração acrescentam ao repertório tradicional dos povos originários outros elementos que atualizam expressão e reflexão ancestral. A poeta indígena Graça Graúna diz: “ao escrever, dou conta da minha ancestralidade; do caminho de volta, do meu lugar no mundo”.

 

A cultura indígena na literatura para leitores de todas as idades

Márcia Wayna Kambeba é uma das autoras que propõe essa ponte entre oralidade e escrita no livro Ay Kakyri Tama. O autor indígena Daniel Munduruku segue na mesma linha: “escrevo para me manter índio”. Em Vozes Ancestrais, ele reúne crenças e tradições em contos a partir do contato com indígenas de dez povos. Assim como Fabiana Ferreira Lopes detalha os preparativos de um dos principais rituais da terra do Xingu, a Festa Da Taquara

O território é base da identidade: um deles é o parque do Xingu, a maior e mais importante reserva indígena brasileira. Por isso é tema do livro de Marco Antonio Hailer, Descobrindo O Xingu. Outro elemento cultural é a língua. Em O Tupi Que Você Fala, Claudio Fragata apresenta as influências que o português recebe do tupi. Já os autores Heloisa Prieto e Victor Scatolinuito trazem símbolos do povo guarani em A Vitória De Mairarê.

As lendas indígenas também são meios de preservar a memória e cultivar os símbolos dos povos originários. O autor Cristino Wapichana narra uma das histórias do povo Anambé, natural do norte do Pará, no livro Ceuci, A Mãe Do Pranto. As obras Uirapuru e Vitória-Régia, do conhecido Mauricio de Sousa, contam histórias destinadas às crianças com símbolos das culturas indígenas.

 

Buobooks indica – adulto:

Vozes Ancestrais – Daniel Munduruku

A Ialorixá E O Pajé – Enéas Guerra e Mãe Stella de Oxóssi 

Festa Da Taquara – Fabiana Ferreira Lopes 

Ay Kakyri Tama – Marcia Wayna Kambeba

 

Buobooks indica – infantil:

Descobrindo O Xingu – Marco Antonio Hailer

A Vitória De Mairarê – Heloisa Prieto e Victor Scatolin

Ceuci, A Mãe Do Pranto – Cristino Wapichana

O Tupi Que Você Fala – Claudio Fragata

Pai, O Que É Índio? – Pedro Sarmento

O Outro Dia – Cláudio Martins 

Uirapuru – Mauricio Sousa

Vitória-Régia – Mauricio Sousa