Xangô, Ṣàngó, em iorubá (idioma da família linguística nigero-congolesa), ou Badé, na Bahia, representam uma mesma divindade nas religiões de matriz africana: o orixá da justiça, dos raios, do trovão e do fogo. Filho de Oraniã e Torossi, ficou órfão da mãe muito cedo e não chegou a conhecê-la. Já mais experiente foi o quarto rei lendário de Oió, na Nigéria, e foi marido de Oyá (Iansã), Oxum e Obá.
Xangô costuma ser representado imageticamente com o Oxê, um machado de dois gumes, famoso “Machado de Xangô”. É ele quem criou o Culto aos Egunguns, o ritual em homenagem aos espíritos ancestrais masculinos de pessoas importantes. Como rei, Xangô unificou todo um povo. Depois de governantes impiedosos e injustos, esse orixá assumiu o trono e o seu caráter ímpar e senso de justiça foram celebrados.
Xangô no contexto brasileiro
As religiões de matriz africana vêm para o Brasil junto ao tráfico negreiro, responsável pelo transporte de cerca de 4,8 milhões de negros para o país. No entanto, além de viver sob condições extremamente precárias, a população negra foi impedida de professar a sua fé durante muito tempo. Por isso, os africanos criaram uma maneira de driblar essa proibição dando aos orixás os nomes dos santos da religião hegemônica, o catolicismo.
Assim, Xangô foi associado aos santos católicos São Jerônimo, Santa Bárbara, Santo Antônio e São João Batista no sincretismo religioso (fusão de elementos culturais diferentes). São Jerônimo se aproxima de Xangô por estar próximo ao leão, um animal que reafirma a condição de realeza para os africanos. No dia de São Pedro, Xangô é celebrado, pois ambos são considerados como guardiões dos céus.
A influência de Xangô na literatura
De histórias em quadrinhos a romances, Xangô serviu de inspiração para obras dos mais diversos gêneros literários. O livro homônimo ao orixá, de Edsoleda Santos, conta a lenda do deus iorubá, “senhor dos trovões, da magia e dos talismãs e também proprietário das pedras de raio que caem sobre a terra durante as tempestades, anunciadas por fortes estrondos e clarões”.
Outra obra inspirada na cultura afro-brasileira, “The Orixás” também é uma homenagem ao quadrinista americano Jack Kirby, fundador da Marvel. A história em quadrinhos com divindades da mitologia iorubá faz uma releitura das ilustrações clássicas dos estadunidenses. O livro começou na Internet, virou posters especiais e se transformou em história em quadrinhos em 2017.
Por fim, o romance Tenda dos Milagres tem como protagonista o mestre e escritor Pedro Archanjo, descrito como Ojuobá, ou “olhos de Xangô”. Além do candomblé, da capoeira e das festas populares baianas integrarem o universo narrativo de Pedro, o presonagem percorre as ladeiras de Salvador e recolhe dados sobre o conhecimento dos negros africanos e sua cultura
Buobooks indica:
Xangô – Edsoleda Santos
Marabô Obatalá – Claudio Daniel
Candomblé Da Bahia – José de Jesus Barreto
Explicando O Evangelho De João – Francisco Albertin
Escravidão – Vol. 2 – Laurentino Gomes