As minas de ouro e diamante brasileiras foram descobertas a partir do estímulo da Coroa portuguesa ao desbravamento de terras desconhecidas por parte de seus funcionários e habitantes. Afinal, Portugal contava com as taxas cobradas da colônia e a produção de açúcar no Brasil começava a enfrentar a competição dos engenhos das colônias holandesas, francesas e inglesas da América Central.
“Dezoito a vinte ribeiro de ouro da melhor qualidade” são descobertas pelos paulistas nos sertões de Taubaté, em 1697, e assim inicia-se a primeira “corrida do ouro” da história moderna. Pouco tempo depois são encontrados pela primeira vez diamantes no território brasileiro, mais especificamente na região do rio Jequitinhonha, que atravessa o nordeste do Estado de Minas Gerais e deságua no oceano Atlântico, no estado da Bahia.
Com a ascensão da mineração, milhares de escravos foram trabalhar nas minas e demais atividades (como a agropecuária) que movimentavam a economia nas regiões auríferas, ou seja, as áreas com minas de ouro. Muitos escravos não suportavam mais do que cinco anos nessa atividade e frequentemente morriam prematuramente por causa das condições insalubres de trabalho e dos acidentes de trabalho.
Uma das minas de ouro subterrâneas situadas na cidade de Ouro Preto, no Estado de Minas Gerais, foi destino do autor Laurentino Gomes, já nos dias de hoje, para conhecer a região que se tornou um dos cenários abordados na obra Escravidão II. O jornalista viajou para 12 países e 3 continentes para a pesquisa que inspirou a trilogia literária que mergulha na história de um dos principais processos estruturantes da sociedade brasileira.
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“E aqui trabalhavam centenas de escravos, muitas crianças (por causa da baixa estatura), extraindo ouro o dia inteiro. A expectativa de vida era muito baixa, no máximo 25 anos. As condições de vida, péssimas. Morria-se por desabamentos, por acidentes, por doenças pulmonares, por carregar excesso de carga nas costas o dia inteiro. […] foi dura, sofrida, dolorida, a extração de ouro por mão de obra cativa africana”, conta Laurentino em vídeo.
Mas a escravidão não começa com a descoberta do ouro e do diamente. Ela já era realidade nas grandes propriedades de terra que abrigaram as primeiras lavouras brasileiras, nas regiões litorâneas do país. Afinal, para formar e trabalhar nas lavouras, já no século XVI, foi necessário um grande número de trabalhadores. Assim, indígenas e africanos foram escravizados para resolver o problema da falta de mão de obra.
Como se já não bastasse as condições precárias dos navios que faziam o tráfico negreiro, africanos foram escravizados e ficavam amontoados na senzala, onde não tinham nenhum conforto na hora do descanso após longas horas de trabalho. O contexto nas lavouras era tão perverso e uma rotina de trabalho tão abusiva que raramente um escravo chegava a ultrapassar a casa dos quarenta anos de idade.
Apesar da escravidão ter sido abolida formalmente pela Lei Áurea (13/5/1888), os libertos não foram indenizados pela violação e degradação de seus direitos. Pelo contrário, a população negra até hoje é estigmatizada pela cor, pelas práticas culturais e religiosas. Os afro-brasileiros engrossam a fila do analfabetismo, afinal são excluídos da universidade e são as maiores vítimas do desemprego.
“Passamos a valorizar a população negra quando era preciso vender o país no exterior, como nas antigas propagandas estereotipadas da Embratur, ou em momentos de catarse coletivas, como o carnaval. Mas na hora de oferecer melhores condições de vida, de emprego, nós ignoramos as contribuições destas Áfricas. Para construirmos o país que nós queremos, precisamos reconectar o corpo e a alma do Brasil”, reivindica Laurentino em entrevista.
Buobooks indica:
Escravidão – Vol. 2 – Laurentino Gomes
O Abolicionismo – Ed. Bolso – Joaquim Nabuco
De Cor Da Pele – Denise Camargo
1889 – Laurentino Gomes
1822 – Laurentino Gomes
1808 – Laurentino Gomes
Escravidão – Vol. 1 – Laurentino Gomes