Chica da Silva história

Chica da Silva: referência para velhos e novos desafios das mulheres

Francisca da Silva de Oliveira nasceu no povoado de Milho Verde, no Arraial do Tijucoera, em Diamantina (MG). Ela foi filha do capitão das ordenanças Antônio Caetano de Sá, e de Maria da Costa, que veio da África ainda criança, da Costa da Guiné, de quem herdou a condição de escrava. Tudo indicava que Francisca seria mais uma entre as milhares de mulheres escravizadas no Brasil do século XVIII. 

Mas seu poder sedutor conquistou o coração do contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira e ela ascendeu socialmente por meio da união estável. Assim, Francisca se tornou Chica da Silva e ganhou um poder até então inédito para uma mulher negra. Esse poder lhe rendeu homenagens como a construção de uma igreja em sua cidade natal, e obras artísticas inspiradas em sua personalidade.

“Chica tinha tudo para desistir, mas lutou até o fim pelos seus sonhos. Viveu um relacionamento inter-racial, zelou pela educação dos filhos e, depois da ida do marido para Portugal, administrou, sozinha, os negócios da família. É moderna até para os dias de hoje”, comentou a jornalista Joyce Ribeiro para uma entrevista, que estudou a história de vida de Francisca e lançou o romance Chica Da Silva: Romance De Uma Vida

As inspirações artísticas provocadas por Chica da Silva

Além de Joyce Ribeiro, outros autores renderam homenagens a Chica da Silva através da arte. É o caso da escritora cearense Ana Miranda, autora da biografia Xica da Silva – Cinderela Negra, e do médico e escritor mineiro Agripa Vasconcelos, autor do livro Chica que Manda: Chica da Silva. Cacá Diegues levou para as telas do cinema a história da personalidade no filme Xica da Silva, de 1976.

Mais recentemente, a atriz Zezé Motta dirigiu um documentário sobre ela: A Rainha das Américas – A Verdadeira História de Chica da Silva. “Chica é daquelas personagens que a gente não sabe muito bem onde termina a história e começa a ficção. Em muitos registros, é tratada como prostituta. Mas, ela e João Fernandes viveram juntos 17 anos e tiveram 13 filhos. Sempre quiseram desqualificá-la, mas nunca conseguiram”, afirmou em entrevista.

Desafios compartilhados por mulheres negras

Outras mulheres negras se tornaram referência através da literatura, seja como autoras, seja como personagens. É o caso da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, já traduzida para mais de 30 idiomas, ou mesmo da brasileira Lélia Gonzalez. Já a adolescente Kambili, em O hibisco roxo, Rami, em Niketche, e Celie, em A cor púrpura, são protagonistas que mostram os desafios da verdadeira mulher negra. Por isso, geram tanta identificação. 

Como se já não bastasse ter que enfrentar o machismo, Zola e Mvelo vivem nos guetos da África do Sul em meio ao apartheid e com medo da aids. No romance Sem Gentileza, a autora Futhi Ntshingilaste apresenta também uma história com mulheres negras como protagonistas que lutam para que suas vozes sejam ouvidas. O livro é mais um exemplo de trajetória de libertação, desta vez de mãe e filha.

Aprendizados e referências compartilhadas

Não baixar a cabeça para ninguém, ser forte para se manter firme em momentos de sofrimento e ousar sonhar com outra realidade são algumas das referências proporcionadas pelas histórias contadas sobre e por mulheres negras. São obras que mencionam lutas, preconceitos que estruturaram sociedades, de separações, boatos e injustiças, mas que também apontam a força do amor e da transformação.

Buobooks indica:

Chica Da Silva: Romance De Uma Vida – Joyce Ribeiro

Sem Gentileza – Futhi Ntshingila