Alice no País das Maravilhas, escrito em 1865 por Charles Lutwidge Dodgson, mais conhecido como Lewis Carroll (1832-1898), se tornou uma das histórias mais populares de todos os tempos. Ao contrário de outros clássicos da literatura infantil, no entanto, seu apelo não diminui conforme vamos nos tornando adultos – muito pelo contrário, aliás. A cada novo contato com o livro ou suas diversas adaptações vamos percebendo detalhes antes ocultos e nos surpreendendo com a deliciosa e imensamente criativa insanidade que permeia a narrativa.

O Coelho Branco, o Chapeleiro Maluco, O Gato, a Lagarta, a Rainha de Copas e outros habitantes do País das Maravilhas são personagens inesquecíveis que acabaram ganhando vida própria, com referências em inúmeras obras literárias de outros autores, quadrinhos, desenhos animados, filmes, peças de teatro, músicas (da ópera ao rock)… Mas que fã nunca desejou que as peripécias de Alice tivessem ido além do segundo livro de Carroll (Alice através do espelho, de 1871)?

Esse universo fantástico está de volta com a série O lado mais sombrio, da autora americana A. G. Howard, publicado no Brasil pelo Novo Conceito e disponível no mundo inteiro, em português, pela Buobooks.

No primeiro livro, que dá nome à série, somos apresentados à jovem Alyssa, uma menina que ouve pensamentos de animais e plantas. Mas ela não fala sobre isso com ninguém, pois tem medo de terminar, como a mãe, internada num sanatório. E ela sabe que a loucura vem de longe em sua família: a tataravó, Alice, tinha sonhos tão estranhos que acabou inspirando Lewis Carroll a escrever o clássico Alice no País das Maravilhas.

Quando a saúde mental da mãe parece estar se deteriorando ainda mais, Alice descobre que o País das Maravilhas existe realmente – e é muito mais sombrio e perigoso do que as histórias que ouviu durante a vida inteira davam a entender. Para quebrar uma maldição que vem de gerações, ela precisa entrar na toca do coelho e superar desafios que nem a imaginação alucinada de Carroll foi capaz de conceber. Mas talvez a mais difícil das provações seja decidir em quem confiar: Jab, o tão sensato amigo da vida real que decide acompanhá-la, ou Morfeu, seu guia naquele mundo mágico, tão ambíguo quanto sedutor?

Uma trama tão rica não poderia ficar restrita a um só volume. Já são três as continuações que exploram cada vez mais esse universo fascinante e psicodélico: Atrás do espelho, Qualquer outro lugar e Sussurros do País das Maravilhas. A trilogia inicial narra a jornada completa de Alyssa, enquanto o quarto apresenta três contos paralelos à saga principal: “O menino da teia”, “A mariposa no espelho” e “Seis coisas impossíveis”.

A.G. Howard conta que desde a infância foi uma grande fã de Alice no País das Maravilhas, do livro original ao clássico desenho animado da Disney. Mas sempre gostou de imaginar o que poderia acontecer se toda a estranheza que surge ali em nuances realmente tomasse conta – o que viu acontecer no filme dirigido por Tim Burton, de 2010. Saiu do cinema decidida a escrever um livro que trouxesse essa história para os tempos atuais. E, com a série O lado mais sombrio, foi incrivelmente bem-sucedida. O reino do País das Maravilhas ainda seguirá soberano por muitos e muitos anos.