Por que a reputação perante os outros parece ser levada mais a sério no Brasil? Não é difícil encontrar um canal de YouTube sobre a experiência de um estrangeiro no país. A preocupação com a imagem perante o outro é uma característica presente há séculos na cultura brasileira. Por exemplo, quando a Família Real portuguesa se mudou para o Brasil, trouxe artistas europeus para retratar o que vissem na colônia. 

Desde o reconhecimento da independência do Brasil, passando pela promoção da imagem nacional em exposições internacionais ao longo do século XIX, até o envio de emissários para difundir uma boa imagem do país junto à imprensa britânica e os acordos com grupos de mídia dos Estados Unidos no mesmo intuito, a história está repleta de experiências que demonstram essa preocupação.

Alguns dos primeiros que registraram suas impressões sobre o Brasil foram o viajante alemão Johann Nieuhoff, o cronista português Henry Koster e o comerciante inglês Thomas Lindley. As obras envolvem relatos sobre a revolução luso-brasileira contra os holandeses no século XVII, os costumes dos habitantes da Bahia colonial e também a psicologia e a etnografia tradicional do povo nordestino no século XIX.

Outros estrangeiros como o botânico, zoólogo e entomólogo austro-húngaro-alemã Johann Christian Mikan e o professor e naturalista suíço naturalizado estadunidense Jean Louis Agassiz, se debruçaram sobre a diversidade da flora e da fauna brasileiras. Seus livros envolvem classificações de milhares de espécies de pássaros, mamíferos, répteis, plantas e insetos e assim contribuíram com o estudo da zoologia e paleontologia. 

A história da arquitetura brasileira e os fenômenos sociais que aconteciam no país também são temas frequentes na literatura gringa sobre o Brasil. Desde os prédios coloniais do Rio de Janeiro ao tráfico e às condições de vida dos escravos em todo o país, autores como o francês Auguste de Saint-Hilaire e o irlandês Robert Walsh eternizaram em suas obras um retrato importante sobre as terras brasileiras.

Os estudiosos estrangeiros foram chamados de “brasilianistas” nos anos 1970, quando a produção de conhecimento local era constrangida pela vigilância do regime militar. Entre os principais nomes gringos que se debruçaram sobre o Brasil neste período estão o historiador britânico Kenneth Maxwell e os historiadores estadunidenses Robert Levine e Thomas Skidmore. 

Ao apresentar outros pontos de vista, as visões “de fora” contribuíram com a formação de uma perspectiva diversa, e portanto mais completa sobre o Brasil. Em um contexto como o da ditadura, os brasilianistas faziam com que as pessoas de fora do país soubessem as atrocidades cometidas pelo regime. Assim, esses pesquisadores também davam sustentação à mobilização de órgãos nacionais e internacionais pela democracia. 

Mas não são apenas comerciantes, botânicos, naturalistas e historiadores estrangeiros que compartilharam suas visões e viagens sobre o Brasil. Inclusive, nos dias de hoje, artistas e influenciadores digitais são os principais formadores de opinião. Em Que Brazil É Esse: O Que Eles Disseram Sobre O Brasil, Paulo Gravina reúne declarações e citações sobre o Brasil de gringos de todas as profissões e ocupações.