Textos Cruéis Demais, de Igor Pires

“Há um padrão de escritor que as pessoas esperam que seja atingido e isso causa ruído. Nem todos entendem como eu sou tão bem resolvido com meu corpo a ponto de exercer isso da forma que faz sentido para mim. O profissionalismo não depende da minha aparência física”, declarou o jovem poeta de 25 anos, Igor Pires, ao jornal O Globo

O gênero, a orientação sexual e o sexo de um escritor não deve restringir a temática de sua obra. Pelo contrário, multiplica perspectivas: quão mais diversa a literatura for, mais representativa ela será para os leitores. Por isso, no Dia Internacional da Luta Contra a LGBTfobia, a Buobooks indica 4 livros que de autoria de pessoas LGBTQIA+ que não são sobre o assunto. 

“O papel da literatura é salvar vidas”, afirma Igor, que hoje é autor de uma trilogia de livros de poesias que viraram best-sellers. A primeira edição é o livro de ficção mais vendido do ano de 2018, Textos Cruéis Demais Para Serem Lidos Rapidamente. Ela é seguida pelo segundo volume, Onde Dorme O Amor, e a terceira edição, O Fim Em Doses Homeopáticas.

Tudo começou com a criação de um perfil no Facebook para publicar textos poéticos inspirados pelo término do seu relacionamento. Tanto o primeiro passo quanto a caminhada que seguiu não foram fáceis. “Sou um autor jovem, negro, gay e periférico. Faço parte de um mercado que não me enxerga como deveria, construído por homens brancos, cisgêneros, heterossexuais do eixo Rio-São Paulo”, destaca Igor.

Amora, de Natália Borges

A obra da escritora, pesquisadora e tradutora Natália Borges também gerou identificação quase imediata no público. Seu livro Amora “é tipo um best-seller. Mesmo lançado em 2015, ainda é muito lido”, ressalta ela para a GZH Livros. Além disso, a obra foi apontada como uma das que estão mudando o cenário LGBT+ dos EUA pela Oprah Magazine, publicação fundada pela apresentadora de TV Oprah Winfrey.

No entanto, o livro não se limita ao nicho LGBTQIA+. Muito pelo contrário, é a maneira com que relata experiências transversais, como a convivência com o maravilhamento e o medo ao mesmo tempo, que o faz alcançar diferentes subjetividades de leitor. “Dia sim, dia não, recebo mensagens sobre como ler o Amora foi importante. E são pessoas de todas as idades e de lugares muito diferentes”, conta Natália. 

De fato, encontrar si mesmo, explorar o desconhecido e enfrentar estruturas sociais são desafios comuns a todos. Os relacionamentos também: Amora envolve contos que narram todos os tipos. “A menina fica confusa, porque a pessoa a quem atribuem tal palavra não é nada daquilo, a pessoa é doce, é uma flor. Essa curiosidade infantil, essa espécie de inocência contrasta com a crueldade do mundo dos grandes”, destaca a autora.

No Brasil, a obra já vendeu quase 10 mil cópias e foi distribuída pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático. O livro venceu duas categorias do Prêmio Jabuti 2016, ganhou versão em inglês e teve direitos cedidos para virar série de televisão. Além disso, integra uma seleção da Amazon com 10 obras escritas por autores de diferentes nacionalidades.

Pó de Parede, de Carol Bensimon

A leitura das três histórias de Pó de parede são suficientes para perceber como a vencedora do Prêmio Jabuti 2018 de Melhor Romance, Carol Bensimon, evita ser encaixada na “literatura LGBTQIA+”, apesar de se identificar como parte desse grupo social. “Acho que a gente está num momento posterior a isso, desse rótulo de literatura gay”, declarou ela ao portal Sul21

A autora questiona os critérios de separação de nichos da literatura. Em entrevista ao Página Cinco, ela afirma que “há outras questões geradas desse ‘corte identitário’ que me parecem difíceis de resolver: se Michael Cunningham, por exemplo, que é gay, escreve um romance em que não há nenhum personagem homossexual, esse livro é literatura LGBT?” 

No entanto, Carol não deixa de se posicionar sobre o assunto. Segundo ela, o preconceito contra pessoas LGBTQIA+ não acontece apenas de fora para dentro, como também por parte dos membros desse grupo social. “A gente tem essa sigla LGBT e, nos anos 90, lembra que era só GLS? O B está ali só como uma letra. Acho que há um preconceito forte dentro da comunidade, em vários sentidos”. 

Em Pó de parede, a autora conta três histórias sobre diferentes juventudes femininas. Na primeira, Alice volta à casa onde cresceu. Na segunda, as irmãs Lina e Titi tem sua vida transformada a partir da construção de um condomínio de luxo. Na terceira, a aspirante a escritora Clara passa a trabalhar no hotel em que seu ídolo literário Carlo Bueno está hospedado. 

Educação Contra A Barbárie, com artigo de Bell Hooks

Se tem algo que Igor Pires, Natália Borges e Carol Bensimon nos ensinam com sua obra é que a luta LGBTQIA+ não deve separar subjetividades, pelo contrário, deve ser inclusiva. A escritora estadunidense Bell Hooks, uma das precursoras do feminismo interseccional, coroa esta seleção de obras com a participação em um artigo traduzido para o livro Educação Contra A Barbárie.

“É certo que, como educadores democráticos, temos que trabalhar para encontrar formas de ensinar e compartilhar conhecimento de maneira a não reforçar as estruturas de dominação existentes (hierarquias de raça, gênero, classe e religião). A diversidade em discursos e pode ser apreciada integralmente como um recurso que aprimora qualquer experiência de aprendizagem”, destaca ela na publicação. 

Não é por acaso que o editor do livro, Fernando Cássio, é professor e especialista em políticas públicas de educação. Além de Bell Hooks, a obra reúne textos de mais de 20 outros autores sobre questões relacionadas à educação pública. Assim como Hooks defendia que a teoria deveria ser considerada no ativismo, ela também propôs uma pedagogia interseccional. Ou seja, uma educação que aproxime e idealmente interligue o pensamento à prática. 

“A conversa é o lugar central da pedagogia para o educador democrático. Falar para compartilhar informações, para trocar ideias, é a prática que, dentro e fora dos espaços acadêmicos, afirma aos ouvintes que o aprendizado pode se dar em quadros de tempo variados (podemos compartilhar e aprender muito em cinco minutos) e que o conhecimento pode ser compartilhado em diversos modos de discurso”.

Buobooks indica:

Textos Cruéis Demais Para Serem Lidos Rapidamente – Igor Pires

Textos Cruéis Demais Para Serem Lidos Rapidamente – Onde Dorme O Amor – Igor Pires

O Fim Em Doses Homeopáticas – Textos Cruéis Demais – Igor Pires

Amora – Natalia Borges Polesso 

Pó de Parede – Carol Bensimon

Educação Contra A Barbárie – Bell Hooks