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A escravidão à brasileira na literatura de Laurentino Gomes: por uma segunda abolição

Descoberta ou invasão? Depende do ponto de vista. Em todas as perspectivas, no entanto, a escravidão dos povos indígenas e africanos foi a base do desenvolvimento das colonizações espanhola e portuguesa nas Américas. A historiografia estima que no Brasil isso começou por volta de 1530, quando os portugueses implantaram as bases para a colonização da América portuguesa. 

Para conseguir a mão de obra necessária ao trabalho na lavoura, foi implantada a escravização dos povos indígenas. Ela foi sendo substituída pela escravização dos africanos, trazidos para o território brasileiro por meio do tráfico negreiro ao longo dos séculos XVI e XVII. Ao longo de mais de 300 anos, cerca de 4,8 milhões de africanos foram trazidos para o Brasil. 

A jornada de trabalho era duríssima, poderia estender-se por até 20 horas diárias, e pautada na violência, expressa nas queimaduras e/ou perda de mãos ou braços das pessoas escravizadas. “Se você quiser entender o Brasil em uma dimensão mais profunda, precisa estudar a escravidão, que é o assunto mais importante da história do país”, afirmou o jornalista e escritor Laurentino Gomes ao El País

O Brasil foi o último país das Américas a abolir formalmente a escravidão, por meio da Lei Áurea, aprovada pelo Senado e assinada em 1888 pela regente do Brasil, a princesa Isabel. Não foi uma obra de caridade, já que o movimento abolicionista havia ganhado força na sociedade na década de 1870, com o fim da Guerra do Paraguai.

Com a experiência americana, a escravidão atingiu escala industrial: foram 12,5 milhões de africanos trazidos para o continente e escravizados nas colônias. O processo perdurou por mais de 300 anos e deixou sequelas profundas na sociedade brasileira. Não é por acaso que hoje no país “a maioria da população pobre é negra, sem acesso à educação, saúde e empregos decentes”, como constata Laurentino. 

Por isso, o autor da trilogia Escravidão afirma que os países colonizadores que se beneficiaram da escravidão devem pedir perdão e que o Brasil precisa de uma segunda abolição. “A primeira era parar de comercializar gente como mercado, algo ocorrido com a Lei Áurea. A segunda era incorporar os ex-escravos na sociedade brasileira como cidadãos, dando terra, emprego, educação, e isso o Brasil jamais fez”. 

A literatura é decisiva para a reorientação do imaginário social sobre o que foi a experiência da escravidão no Brasil. Pois “infelizmente a história da escravidão é contada por pessoas brancas: capitães de navios negreiros, viajantes europeus que visitaram o Brasil ou a África no período”, lamenta o autor. Por isso, Laurentino Gomes decidiu se debruçar sobre a formação social do país na sua obra mais recente. 

Os livros Escravidão I, Escravidão II e Escravidão III são resultado de seis anos de pesquisas e observações, que incluíram viagens por doze países e três continentes. “Enfrentar a desigualdade social no Brasil é sinônimo de uma segunda abolição, porque a maioria dos pobres são negros. Por isso digo que não é só uma reparação histórica, mas um investimento no futuro”.

Buobooks indica:

1808 – Laurentino Gomes

1822 – Laurentino Gomes

1889 – Laurentino Gomes

Escravidão (vol.1) – Laurentino Gomes

Escravidão (vol.2) – Laurentino Gomes


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