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A literatura como meio de expressão da subjetividade em meio a violações de direitos humanos

Como os millenials poderiam conhecer o dia a dia de um contexto sem liberdade de expressão, como o da Alemanha nazista ou o da Itália fascista? A literatura foi válvula de escape para que a adolescente alemã judia Anne Frank e o grupo de mulheres lideradas pela guerrilheira italiana Ada Gobetti pudessem se expressar. Ao mesmo tempo, O diário de Anne Frank e Um diário guerrilheiro se tornaram registros essenciais da memória social. 

Apesar do desenvolvimento da Internet ter feito com que muitos desses diários se tornassem blogs, os livros seguem como plataformas para histórias inspiradoras. Em Maha Mamo – A Luta De Uma Apátrida Pelo Direito De Existir, uma cidadã brasileira nascida no Líbano e filha de sírios que foi apátrida por trinta anos compartilha sua experiência. A obra é uma das ações que contribuíram para mudar as leis do Brasil e de países sobre o tema.

A literatura também é um megafone para denunciar violações de direitos humanos. Seja como manifestação de insatisfações com a política ou ética vigente, seja como reivindicação por igualdade social, racial e/ou de gênero, a literatura pode colocar a arte a serviço da crítica social. No clássico Oliver Twist, por exemplo, são expostas as condições degradantes da Inglaterra do século XIX. 

Já em Sem gentileza, são apresentados os desafios das mulheres nos guetos da África do Sul durante o apartheid. Muitos deles, como o machismo e a pobreza, permanecem nos dias de hoje. Portanto, essas histórias servem não só para o reconhecimento desses problemas pelo leitor, como para a sua reflexão sobre como enfrentá-los, mesmo em contextos diferentes daqueles que são relatados. 

A literatura é capaz de formar e efetivar direitos humanos por meio da permissão da experiência da liberdade de expressão, da autenticidade e do reconhecimento da vida de cada sujeito. Além disso, ao registrar debates que aconteceram em eventos sobre temas como a saúde, livros como Direitos Humanos E Saúde Mental contribuem com a democratização do conhecimento sobre os direitos humanos. 

As ideias difundidas na Guerra de Independência dos Estados Unidos e na Revolução Francesa (e promulgadas na Constituição dos EUA e na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da Assembléia Nacional Francesa) são a base do que se conhece por direitos humanos hoje. Elas são destacadas e defendidas em Os Direitos Do Homem com uma linguagem acessível.  

Para além de uma plataforma para falar sobre os direitos humanos, a literatura por si só pode ser considerada como um deles. Uma das obras que aborda essa relação metonímica e diretamente é O direito à literatura, de Antonio Candido. O argumento é de que a literatura humaniza e permite o desenvolvimento da subjetividade em um contexto que representa o coletivo e, por isso, a literatura também é um direito humano.