Aconteceu algo legal com você durante esse tempo de pandemia? Gosto da expressão do profeta Jeremias que diz que trará à sua memória aquilo que te dá esperança. Aliás, em 600 a.C. Jeremias propunha algo aclamado pela neurociência atual, um novo mindset, filtros mentais dos próprios pensamentos. 

Por isso comecei com essa pergunta, para te chamar à reflexão sobre coisas legais nesse tempo de isolamento e medo. Quero te falar sobre o que aconteceu por aqui e terminar te encorajando. Assim que a pandemia começou pesquisei sobre processos mentais para ajudar a atravessar momentos de crise intensa. Tudo o que li e ouvi foi sobre manter uma rotina de exercícios físicos, leituras e listas diárias de afazeres e motivos de gratidão. E assim eu fiz.

E o tempo que ganhei em não estar presa no trânsito,aproveitei para fazer cursos de escrita criativa. E na convivência provocativa entre escritores iniciantes, fui estimulada, e aí está uma outra sugestão da neurociência, precisamos selecionar companhias. Não digo viver uma vida utilitarista, creio que seria mais deixar entrar e acolher as pessoas que nos estimulam a ser melhores, e limitar o acesso daquelas que nos levam a querer desistir da esperança em nós e no mundo.

Nesse processo de manter a rotina, listas e agradecimentos, surgiu um novo livro, um romance entre um policial e uma fotógrafa. Ele um ogro, ela uma poeta. Um casal improvável, que se aproxima em um momento inusitado, regado por tequila demais e sobriedade de menos. E os dias da pandemia transcorriam enquanto Emílio e Talia nasciam. Ele com tiradas politicamente incorretas e ela, engajada e romântica.

Com eles descobri que personagens têm vontades próprias, pelo menos na escola literária que sigo, não consigo obrigar meu personagem a se curvar a minha vontade, ele tem seu próprio arco, e quando tentei fazer o policial pedir desculpas por uma atitude a história travou, não que Emílio não peça desculpas, mas ele não estava maduro para ver seu erro, e o escritor não impõe, ele pega o personagem pela mão e o leva até lá.

Assim, minha pandemia foi apresentando pessoas a Emílio e Talia, que os ajudariam a decidir se vale a pena investir quando você descobre que por baixo da casca tem uma história comovente de perdas e abandonos. Os personagens trouxeram também uma narrativa mais erótica do que meu livro anterior, eu tentei tornar o texto mais subliminar, mas Emílio é aquela pessoa que quando chega você tira as crianças da sala, e o divertimento dele estava em testar esse lado de Talia.

Esse livro provavelmente será um ponto fora da curva em meus romances, mas ele nasceu em uma pandemia mundial, em que a maior parte da humanidade estava trancada em casa ou saindo com medo. A ficção me trouxe à memória esperança, levei meus personagens para o Pier de Santa Monica, na Califórnia, enquanto eu mesma sonhava em estar lá mais uma vez.

Meu encorajamento para você? Cerque-se de pessoas que te estimulem a ser melhor, exercite-se e leia ficção, isso reduz o stress e ainda traz esperança de dias melhores. Depois escreva, faça listas de gratidão, traga à memória o que te trouxe esperança. Em tempos de pandemia, a arte é nosso remédio.

Liz Vecci

 

O livro O farol de Bill Baggs conta com uma playlist especial já que cada personagem é definido por música. Sua autora, Liz Vecci, está apoiando uma ação beneficente com a associação Missão Resgate da Paz, que ajuda mulheres dependentes químicas.

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O farol de Bill Baggs – Liz Vecci