Optar por criar os filhos em dois idiomas pode assustar bastante, principalmente as famílias que estão fora do Brasil, vivendo essa experiência no dia a dia – seja no caso de pai e mãe com nacionalidades diferentes ou pelo processo de aprendizagem de outra língua na escola. Atraso da fala, comunicação prejudicada pela confusão entre as línguas, dificuldades no processo de alfabetização (para quem escolher fazer) são algumas das preocupações mais comuns. Aqui, a especialista Louise Machado, autora do livro Desmistificando o bilinguismo, responde algumas das principais dúvidas de seus seguidores nas redes sociais.

1. Falar outra língua vai atrasar a fala do meu filho?

O atraso na fala é a principal dúvida e receio de pais que decidem pelo bilinguismo, e já começo falando que: o bilinguismo NÃO atrasa a fala. Durante todo meu processo de estudo e pesquisa, percebi, junto a uma equipe de fonoaudiólogas, que o inglês não atrapalhou em nada na fala do meu filho em português ou vice-versa, muito pelo contrário, houve um impulso linguístico tanto no português quanto no inglês a partir de uma certa idade.

2. Como eu devo iniciar o bilinguismo do meu filho?

Seja em casa ou na escola, a ideia principal é simples: falar. Fale com ele independentemente da idade, mesmo que você ache que ele é muito novo ou que já passou da idade. Claro que os estágios de aprendizado em cada idade serão diferentes. Os mais velhos já começam a falar sentenças mais complexas enquanto os mais novos começam mais devagar. Não existe uma idade única para começar. Por isso, você pode escolher virar a “chavinha” por completo e começar a falar normalmente outra língua em casa, pode escolher falar em determinados horários ou locais, pode decidir por misturar as línguas. Não importa, apenas comece!

3. Como manter o idioma dentro de casa?

Para quem já começou a jornada bilíngue, mas às vezes percebe que a criança não fala mais como antigamente aquele idioma ou simplesmente quer ajudar a manter essa língua, aqui vão algumas dicas: permita que seu filho tenha acesso ao idioma além da sua exposição, com livros, músicas e programas de TV na língua minoritária, que ajudam a fixá-lo, além de aumentar o leque do vocabulário e das conexões que essa criança terá com a língua. Propicie um ambiente multicultural, seja com receitas típicas daquele país ou com brincadeiras que remetam ao idioma. Favoreça a ludicidade em casa, faça brincadeiras que a criança ame, entre no mundo dele e aproveite este momento para reforçar a língua!

4. Alfabetização bilíngue dá certo?

Pode parecer um bicho-de-sete cabeças, mas não é (garanto, porque estou passando por isso!). A alfabetização bilíngue pode ser feita pela escola ou pela família, simultânea ou consecutiva. O importante é trabalhar a consciência fonológica através de rimas, musicalização, trava-línguas e a consciência fonêmica mostrando os sons das letras, as sílabas, a formação da palavra em si. Sempre respeitando e sendo guiado pela curiosidade e o interesse da criança.

5. Eu preciso mesmo do bilinguismo?

Eu sempre brinco dizendo que precisamos mesmo é de comida, amor e uma cama para dormir. Mas o bilinguismo é importante, sim! Tanto para o desenvolvimento cognitivo e neurológico da criança, quanto pelas raízes que criamos. É a língua que vai unir as crianças às nossas raízes, aos familiares que estão longe, a quem nós e eles somos. Por isso, não desista do bilinguismo ou da sua língua de origem, ela faz parte de quem somos, assim como qualquer órgão, membro ou sangue que corre em nossas veias.

Veja algumas dicas de livros de Louise disponíveis na Buobooks:

1. Para começar o bilinguismo: O menino que perdia as palavras, As 100 primeiras palavras (animais), As 100 primeiras palavras (alimentos)

2. Para manter a língua: Curupira, brinca comigo? e Antes de mim

3. Para iniciar a alfabetização: Jacaré Janta Jaca e A tatuagem do tatu