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3 anos do incêndio no Museu Nacional do Brasil e o papel da literatura

Há três anos, um incêndio de grandes proporções tomava o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. O Brasil viu seu primeiro museu e um dos maiores acervos de história natural da América Latina se queimarem e se perderem de um dia para o outro, a partir de um curto-circuito causado pelo superaquecimento em um aparelho de ar-condicionado. 

A maior parte dos 20 milhões de itens que o museu abrigava foi totalmente destruída. Nele, estava o mais antigo fóssil humano já encontrado no país, a Luzia; a coleção egípcia que começou a ser adquirida ainda por Dom Pedro I; a coleção de arte e artefatos greco-romanos da Imperatriz Teresa Cristina e coleções de paleontologia que incluam o fóssil de um dinossauro proveniente de Minas Gerais.

Esse não foi o único e nem o primeiro incêndio a atingir o conjunto de prédios que armazenam o patrimônio material brasileiro. Em 1978, o Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro viu telas de Picasso, Miró, Dalí e de centenas de artistas brasileiros queimarem em 40 minutos de incêndio, conforme o relato de jornais na época. Do acervo, de mais de mil peças, restaram apenas 50. 

Somente nos anos 1990 o Brasil reconquistou a confiança de instituições internacionais para sediar exposições de grande porte. Além do MAM, o Teatro Cultura Artística, o Instituto Butantan, o Memorial da América Latina, o Museu de Ciências Naturais da PUC-MG, o Centro Cultural Liceu de Artes e Ofícios, o Museu da Língua Portuguesa e a Cinemateca Brasileira, em 2016 e agora em 2021, também foram dizimados pelo fogo.

Para muitos, é depois da frustração com o descaso que nasce a vontade de atuar para prevenir que novos episódios aconteçam. Mas como abordar e gerar interesse sobre o tema em futuras gerações? Essa é uma das possibilidades da literatura infantojuvenil, um gênero literáro que reúne obras educativas e provocadoras ao mesmo tempo. As ilustrações contidas em muitas delas enriquecem e facilitam a compreensão de assuntos difíceis. 

A autora Isa Colli, que já foi cabeleireira, maquiadora e jornalista, propõe um outro olhar sobre o tema em seu livro Incêndio no museu, sobre um incêndio no Museu Imperial, em Petrópolis (RJ). A narrativa é direcionada a crianças e adolescentes e é relatada sob a perspectiva de animais que vivem em torno do estabelecimento e encarnam a preocupação com a perda de um patrimônio mundial, a impotência e o desânimo. 

A literatura é um meio para se debater temas sérios com o público infantojuvenil, mas também pode ser uma plataforma denunciar ameaças à arte e à memória. Antes mesmo da Semana de Arte Moderna, em 1922, artigos de autores do movimento denunciavam a ameaça de irrecuperável perda de obras de arte. A literatura nacional como patrimônio do país também evoca em muitas de suas narrativas as imagens de patrimônios culturais.

A declaração de um gênero literário como patrimônio cultural também contribui com essa preservação. É o que aconteceu recentemente no Brasil com o cordel, uma poesia popular com traços de oralidade divulgada em folhetos e muito característica da região Nordeste do país. Dentro da categoria, vale conhecer obras como Pequena história do Rio De Janeiro em cordel, de José Guilherme Soares Teles, e Rapunzefa, de Luciano Dami.