Tristes tempos. Não bastassem os medos, ansiedades e aflições decorrentes da pandemia da Covid-19, seus efeitos amplificam um problema histórico da cultura brasileira – a desigualdade de gênero.

Pesquisa do Instituto Datafolha informa: as mulheres brasileiras estão mais estressadas e ansiosas do que os homens no contexto da pandemia. Encomendada pelo C6 Bank, a pesquisa avaliou o impacto da pandemia nas finanças, na vida profissional e nos cuidados da casa e com a família.

Os dados, publicados na quarta-feira (5 de agosto) pelo jornal Folha de S.Paulo, ilustram não só o drama feminino como escancaram a realidade machista e patriarcal que ainda impera no Brasil. Isso porque 57% das mulheres que passaram a trabalhar em regime de home office disseram ter acumulado a maior parte dos cuidados com a casa. Entre os homens, esse percentual é de 21%.

Elas também sentiram que aumentaram as exigências e obrigações dentro de casa (71% para as mulheres; 64% para os homens).  A perda de emprego também se mostrou maior entre as entrevistadas (18% contra 11%).

E, como destacou a repórter Fernanda Mena, durante a pandemia, as crianças colocaram sobre a mãe uma pressão emocional extra, além do reforço na culpa que em geral acompanha a maternidade.

A desigualdade de gênero entre brasileiros começa dentro de casa: segundo dados do IBGE, de 2019, mulheres dedicam 18,5 horas semanais, em média, aos afazeres domésticos e aos cuidados com as pessoas, ou 80% mais tempo do que as 10,3 horas semanais médias dos homens. A crise é maior entre mulheres negras – quase 60% das desempregadas.

Recomendação de leitura

A pandemia agrava e amplifica essa desigualdade de condição. Mudar esse estado de coisas exige esforço, tempo, informação, convencimento e consciência de homens e mulheres – especialmente os homens, claro.

Aquilo que naturalizamos como “normal” é uma deficiência cultural grave. Além da consciência, falta aos homens a compaixão de que fala Fernando Moraes em seu livro disponível na Buobooks. Compaixão que é, segundo ele, “a consciência permanente de que existe o outro”. Moraes mostra que, quando adotamos a compaixão como exercício cotidiano, estamos na verdade dizendo aos outros: “Eu vejo vocês”.

Homens costumam cegar diante do óbvio, dentro e fora de casa.

Homens deveriam ler #Madalenasemfiltro, livro em que o escritor Rodrigo N. Alvarez assume a voz de Maria Madalena, em primeira pessoa. Da sua voz emite a fala, o som e a palavra de uma das primeiras mulheres que ousaram gritar por seus direitos – num tempo, numa região e numa cultura marcadamente machistas e cruel com as mulheres.

E para encerrar com leveza, apesar de tudo, vale ler a escritora e advogada Ruth Manus, em Mulheres não são chatas, mulheres estão exaustas. Ela recorrer ao humor para falar de direitos, trabalho, família e outras inquietações da mulher do século XXI. Um belo livro para conscientizar, despertar mentes, construir pontes entre o velho e o novo mundo.