“A Terra é azul”, anunciava o astronauta russo Yuri Alekseievitch há 60 anos, na primeira viagem tripulada ao espaço. Se adotado há milênios, o ponto de vista do astronauta poderia ter conferido ao nosso planeta outro nome, como Oceano. Afinal, a razão pela qual a Terra parece majoritariamente azul é porque grande parte dela é composta por água: os oceanos cobrem 70% da sua superfície.

A importância dos oceanos não se restringe à sua proporção na superfície do planeta. Como volumosos corpos de água, eles são responsáveis pela absorção de mais de 90% do calor e quase um terço de todo o dióxido de carbono que os seres humanos produzem. Os oceanos não são essenciais só para nós, como o são também para mais da metade de toda a vida no planeta, e o lar de 25% do total de espécies.

Os oceanos influenciam o clima e as condições meteorológicas, estabilizam a temperatura, moldam a química terrestre, fornecem alimentação e funcionam como plataforma para transporte de cargas e pessoas. Além disso, espécies de algas marinhas e de água doce produzem 55% do oxigênio do planeta. Mas ainda se conhece menos de 10% do relevo do fundo dos oceanos, segundo a Organização Nacional Francesa de Hidrografia (OHI). 

Por isso, os oceanos assumem diferentes simbologias e isso se reflete na literatura. Na obra de Carl Gustav Jung, por exemplo, o mar é o símbolo das águas maternais, fecundas e criadoras, e especificamente em sua área de atuação, o oceano representa o inconsciente. Segundo a médica psiquiatra Nise da Silveira, “pode-se representar a psique como um vasto oceano (inconsciente) no qual emerge uma pequena ilha (consciente)”. 

Já para religiões de matriz africana, o oceano é um meio de conexão com os orixás, especialmente Iemanjá, ou “Inaê”. Ela é conhecida como a rainha do mar e louvada em canções como Yemanjá Rainha do Mar, interpretada por Maria Bethânia, e Lenda das sereias, rainha do mar, cantada por Marisa Monte. O culto à orixá foi trazido para o Brasil pelos povos de origem iorubá, no final do século XVIII até quase metade do século XIX

O oceano também é utilizado como metáfora para representar uma viagem duradoura e de altos e baixos. Assim, a professora de literatura Luara Pinto Minuzzi lembra que a língua portuguesa falada em Moçambique tornou-se um idioma que “não pode nunca pertencer a um único povo e possuir ambições puristas e essencialistas”, pois “viajou pelos mares e oceanos, parou em diferentes portos e adquiriu novas colorações e matizes distintos”.

Já o escritor moçambicano Mia Couto costuma explorar a relação das águas com as emoções na sua obra. Por exemplo, no livro O último voo do flamingo, ele pergunta: “o que faz a lágrima? A lágrima nos universa, nela regressamos ao primeiro início. Aquela gotinha é, em nós, o umbigo do mundo. A lágrima plagia o oceano”. 

Também nascido na África e conhecido no Brasil, o autor angolano José Eduardo Agualusa tem no seu sobrenome uma palavra usada em tempos por marinheiros, como referência ao mar calmo. Não por acaso, escolheu viver junto do oceano, em Luanda, Lisboa, Rio de Janeiro e na Ilha de Moçambique, e explora o mar com poesia, “como se do céu caíssem grossos fragmentos desse oceano escuro e sonolento no qual navegam as estrelas”.

Buobooks indica:

Iemanjá – Edsoleda Santos

Carlos Burle – Profissão: Surfista – André Viana

O Amor Do Mar – Ribamar Castro

Uma Amizade No Fundo Do Mar – Paulo Sayeg

Tarcirurga, Bartolomeu E Pluminha No Mar Sem Fim – Beth Cardoso

Navio Negreiro No Mar Do Branco Do Olho – Clovis Levi

Maia, A Estrela Do Mar – Isa Colli