Não há dúvidas de que a inclusão é um tema mais debatido hoje do que era há dez anos. Mas antes de um discurso bonito para ganhar curtidas nas redes sociais ou um slogan para vender produtos, a inclusão é um processo complexo e com muitas pessoas e perspectivas envolvidas. Afinal cada tipo de deficiência atinge não só quem a tem, como também os familiares, os amigos, e a sociedade como um todo. 

Quando a literatura serve de plataforma para compartilhar os diferentes ângulos da inclusão – ou da falta dela, contribui com a desestigmatização do tema. Compartilhamos três livros que apresentam a perspectiva da mãe de uma menina com hemimelia fibular, de um pica-pau com o bico torto, e de profissionais da saúde que contribuíram com o desenvolvimento da educação especial. 

Sou a Mãe Dela – Adriana Araújo

Como é lutar pela inclusão de uma pessoa de quem se é mãe? A jornalista Adriana Araújo compartilha os desafios e os aprendizados dessa experiência no livro Sou a Mãe Dela. Nascer com a deformação dos ossos da perna e dos pés e a falta de três dedos na mão direita não é comum e se torna mais difícil quando se enfrenta o preconceito dos outros. Para Giovanna, uma menina crescendo e buscando integração, surgiram muitas dúvidas. 

Além da jornada da filha, existe a da mãe, que passou a ver a vida de outro jeito, e a obra não esconde nenhuma das dores e fraquezas. Pelo contrário, Adriana e Giovanna se deram as mãos para fortalecerem-se e aceitaram a condição especial para seguir em frente. Como um gesto de gratidão aos familiares e médicos que estiveram junto e uma declaração de amor, o livro emociona pela franqueza com que fala sobre inclusão. 

Pipa, um cara especial – Henrique German

Como abordar a inclusão com crianças? Em Pipa, um cara especial, Henrique German conta a história de um pica-pau que nasceu com o bico torto e enfrenta o preconceito dos colegas no primeiro dia de aula, quando há o impacto do confronto do “olhar-se para si com os olhos do outro”. O livro fala sobre inclusão com sensibilidade na escolha dos personagens e das palavras e ludicidade nas ilustrações coloridas de Mariana Tavares.

Nesta obra, as metáforas são uma ótima maneira de mostrar para o público infantil que a aceitação de uma condição especial pode transformar uma fraqueza em virtude e fonte de carinho e respeito. Ainda que o leitor não tenha condições especiais, é provável que desenvolva empatia e consciência pela importância da equidade. Pois pode ter colegas que precisem de atenção maior para ter as mesmas oportunidades de aprendizado e interação.

Médicos Educadores – Daniela Leal

Crianças misturadas a anomalias em locais com diversas doenças, dificuldades apresentadas durante os períodos escolares, percepção da pouca importância dada à pedagogia em conjunto com a medicina para o desenvolvimento e a aprendizagem, e a criação de métodos e/ou testes para compreensão do diagnóstico dado a cada criança são algumas das principais contribuições de médicos à educação infanto-juvenil.

Além desses profissionais da saúde terem se dedicado a propor projetos inovadores para a educação, eles ajudaram a desmistificar a sua participação na pedagogia. Assim, pouco a pouco contribuíram para que a sociedade percebesse que a presença de médicos na educação não significa a “germinação de criminosos e desajustados”, e para que não aderisse mais à eugenia e visões higienizadoras das pessoas com deficiência.