Criar um filho bilíngue não é algo novo ou incomum. Ainda assim, muitos mitos e questionamentos infundados são perpetuados pelo simples desconhecimento de como a aquisição do segundo idioma acontece e todos os seus benefícios. Nossa colunista Louise Machado, especialista em bilinguismo e autora de um livro sobre o assunto disponível na Buobooks, desfaz aqui alguns deles.

1. O bilinguismo atrasa a fala das crianças

Este é, sem dúvidas, o mito mais difundido sobre o bilinguismo. Alega-se que crianças bilíngues terão atraso de fala pelo suposto fato de dois idiomas serem muita informação para o cérebro processar ou, ainda, por a criança ser muito novinha e ainda não saber se comunicar em um idioma direito, muito menos em dois. De acordo com várias teorias de aquisição da linguagem, todas as pessoas, desde que com desenvolvimento neurotípico, falaram algum idioma ao longo de toda a história da humanidade. Prova portanto de que somos capazes de adquirir línguas, independentemente de qual ou quantas.

Um bebê, ao nascer, ainda não foi exposto a nenhum idioma. Por isso, todo seu desenvolvimento articulatório, lexical, gramatical está aberto para qualquer língua. Um outro ponto é a neuroplasticidade, que diz respeito à flexibilidade cerebral em adquirir qualquer conhecimento. O pico de plasticidade ocorre na mais tenra infância, por isso quando mais cedo, mais fácil o processo de aquisição pelo cérebro.

2. Bilíngues confundem os idiomas

O “code mixing” e o “code switching” – que ocorrem quando bilíngues inserem palavras de um segundo idioma na frase ou criam neologismos entre os idiomas – antigamente eram utilizados como exemplos de confusão linguística. Mas, você já parou para pensar sobre o que é confusão entre os idiomas? Bom, primeiramente, a confusão existiria se o bilíngue começasse falando sobre uma coisa e, na mesma frase, misturasse assuntos sem nexo, sem coerência.

Além disso, se uma criança ou adulto bilíngue fizerem o code mixing ou switching conversando com alguém que só entende um idioma, o interlocutor vai tentar de todas as maneiras possíveis se comunicar efetivamente: vai fazer mímica e até dar cambalhota para trás se for necessário, mas vai querer que toda a mensagem que foi dita seja compreendida. Ou seja, isso só demonstra que não há confusão! Code mixing/switching não são exemplos de confusão linguística, e sim  conceitos próprios do universo bilíngue e multilíngue. Ambos fazem parte do processo de aquisição do idioma e podem diminuir com o tempo.

3. Apenas nativos podem criar uma criança bilíngue

Isso ocorre tanto devido a outro mito – de que bilíngues não teriam sotaque – quanto pelo fato de se acreditar que pais não nativos não tenham fluência total em outro idioma.

Primeiramente, precisamos desmistificar a ideia de que devemos falar perfeitamente outro idioma. Eu sou falante nativa do português, formada em Letras em uma Universidade Federal e, mesmo assim, cometo alguns erros durante o processo de fala, erros de concordância, leves, mas erros se observarmos a gramática da língua. Então, se eu cometo esses erros e ainda tenho o “selo” de nativa, por que achar que apenas nativos seriam capazes?

Fluência e proficiência são necessárias no idioma, mas é perfeitamente possível criar um filho bilíngue sem ser nativo – eu mesma crio meu filho bilíngue morando no Brasil e sendo brasileira!

E você? Já ouviu falar de algum outro mito? Conte aqui nos comentários.

Veja abaixo três livros disponíveis para os pequenos e grandes bilíngues na Buobooks.